sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Idolo ou Cromo nrº15 : Sitiados

Hoje decidi dedicar este post a uma das bandas Portuguesas na minha opinião mais subvalorizadas de sempre, é verdade que músicas como "Vida de marinheiro" tiveram um sucesso estrondoso e imenso airplay por parte das rádios mas com o passar dos anos e sobretudo na segunda metade dos anos 90 algumas bandas parecem ter sido esquecidas pelo público mais casual e tiveram muito menos visibilidade na rádio e TV, infelizmente os Sitiados foram uma dessas bandas...

A formação da banda acontece em finais do ano de 1987 quando os ex-Meteoros José Resende (guitarra), João Aguardela (voz) e Mário Miranda (baixo), juntam-se a Fernando Fonseca (bateria) para formar os Sitiados.

Concorrem ao 5º concurso do Rock Rendez Vous onde ficam em 2º lugar. Na compilação "Registos" aparece o tema "A Noite" que mais tarde seria gravado pela Resistência.
Curioso o facto de muita gente colar "A Noite" aos Resistência pois foram de facto estes que tornaram a música famosa junto ao grande público mas no entanto há que lembrar que este sucesso é um original dos Sitiados.

Um pouco depois da formação entra para a banda o acordeonista Manuel Machado. Pouco tempo depois sai do grupo e é substituído por Sandra Baptista. Entram também Jorge Buco (bandolim) e o baixista João Marques (ex-Clandestinos) que substituiu Mário Miranda. José Resende passa a colaborar com o grupo apenas em estúdio e na composição.


Mesmo sem qualquer disco editado, o grupo fazia mais de 80 espectáculos por ano. O grupo pondera a gravação de um álbum ao vivo "Naufrágio" que seria editado em edição de autor. A banda assina com a BMG e lançam o álbum "Sitiados" no início de 1992. O tema "Vida de Marinheiro" catapulta o disco para o sucesso e o álbum consegue vender mais de 40 mil cópias. Os Sitiados tornam-se assim uma das bandas mais populares de Portugal e alcançam o merecido sucesso.

Entram para o grupo, Ana Fonseca (guitarra acústica) e Jorge Quadros (bateria). Jorge Ribeiro (trombone), João Cabrita (saxofone) e João Marques ( trompete) tem um papel preponderante no trabalho de estúdio. José Resende também colabora nas gravações do segundo disco.

Em Junho de 1993, o grupo participa no espectáculo "Portugal ao Vivo" juntamente com a maioria das bandas nacionais mais populares da altura. O segundo álbum, "E Agora?!", é editado em Setembro. No disco participam Viviane, Paulo Bragança e João Ribas. É editada a compilação "Johnny Guitar" que inclui o tema "Marcha dos Electrodomésticos", uma versão de "A minha Sogra É Um Boi" dos Mata-Ratos.



No dia 11 de Dezembro de 1993 actuam com bastante sucesso no Pavilhão Carlos Lopes. A primeira parte contou com a participação de Paulo Bragança que interpretou cinco temas do início da carreira do grupo "Junto ao Rio", "Abril", "Amanhã", "E Ela Cega" e "Saudade".



Participaram na compilação "As Canções de António" com "O Corpo É Que Paga" e em "Filhos da Madrugada" com "A Formiga No Carreiro". Ainda em 1994, João Aguardela recebe o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Autores e actuam no espectáculo "Filhos da Madrugada"..

Em 1995 é editado o álbum "O Triunfo dos Electrodomésticos". O disco inclui uma versão de "Lá Isso É" de Sérgio Godinho.


Em 1996 é editado o quarto disco do grupo que volta a receber o nome "Sitiados". O disco inclui uma versão de "A Menina Yé Yé" do Conjunto António Mafra. Participam ainda numa compilação do programa "Xabarín" da Televisão Galega com "Aí Ven Ela".

Em 1997, João Aguardela edita o primeiro disco do projecto Megafone.

Em 1999 aparecem no disco "XX Anos XX Bandas", disco de Tributo aos Xutos & Pontapés, com o tema "P'ra Ti Maria".



Pouco depois entra para a banda Samuel Palitos (ex-Censurados). O grupo muda de editora, passando da BMG para a Sony que edita o disco "Mata-me Depois" em 1999 com produção de Marsten Bailey.


Em 2000 a banda começa a desaparecer dos palcos e da cena musical nacional

A nível discográfico a banda lançou os seguintes álbuns :

- Sitiados (1992)

- E agora...?! (1993)

- Triunfo dos Electrodomésticos (1995)

- Sitiados (1996)

- Mata-me Depois (1999)

Foi ainda lançada uma compilação de sucessos da banda de seu nome "Vida de Marinheiro" em 1997.

Entretanto João Aguardela empenha-se cada vez mais nos seus projectos paralelos como são o caso dos "Linha da Frente" ou os "A Naifa", tem ainda um projecto mais pessoal de nome "Megafone" com o qual lançou ainda quatro discos.


Em "A Naifa" constituída por João Aguardela, Luis Varatojo, Maria Antónia Mendes e Vasco Vaz o ex-vocalista dos Sitiados emprestou os seus dotes no baixo deixando a parte vocal para a integrante feminina do grupo.
Já o projecto Megafone do qual foram lançados quatro álbuns enumerados de I a IV, e para quem estiver interessado e possível fazer download dos álbuns no site oficial de João Aguardela em http://www.aguardela.com/discos.html.
Infelizmente João Aguardela viria a falecer em 18 de Janeiro de 2009 vitima de cancro do estômago.
Como se costuma dizer foi o artista ficou a obra, e todos os que tínhamos idade suficiente para na altura cantar " Esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim..." entre outras das letras das suas músicas temos agora também o dever de manter a sua obra presente entre os mais novos, pois na minha opinião os Sitiados e João Aguardela foram sem duvida parte activa e memorável do melhor período da música Portuguesa.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Idolo ou Cromo nrº14 : Resistência


Depois de passar o mês de Janeiro quase por inteiro a tentar perder os excessos de açúcar acumulados na época Natalícia, diga-se sem grande sucesso, achei que não havia nada melhor que me sentar a frente do PC e tentar perder esses mesmos açúcares através do bater dos meus dedos no teclado.

Sendo assim decidi escrever sobre aquela que foi uma das bandas que mais me marcou no panorama musical Português, os Resistência foram mais que uma banda foram sim um super-grupo uma espécie de concelho de super heróis como aqueles da Marvel mas que em vez de dispararem raios pelos olhos ou teias pelas mãos usavam o seu talento para cantar, tocar e encantar a juventude deste pais que no inicio dos anos 90 tinha apenas dois canais de TV e apenas uma variedade de sabor de batatas fritas empacotadas, nada de sabor a ketchup ou chouriço apenas havia lisas ou onduladas...ai ai os anos 90.

Peço desculpa se divaguei um pouco, uma curiosidade sobre esta banda é que começou por ser num primeiro esboço uma espécie de girls-band!
Na cidade de Lisboa, na edição da Feira do Livro de 1989, deu-se o primeiro passo para a criação do projecto, Teresa Salgueiro, Anabela Rodrigues e Filipa Pais, ao lado de Pedro Ayres Magalhães, o mentor do projecto, estiveram presentes numa sessão experimental primordial.
No entanto na sessão seguinte as vozes femininas deram lugar as masculinas nas pessoas de :
Pedro Ayres Magalhães, Miguel Ângelo, Tim, Fernando Cunha e Olavo Bilac, uma curiosidade prende-se com o facto que Olvao Bilac apesar de fazer parte dos Santos e Pecadores a banda ainda não tinha gravado nenhum álbum o que acabou por ser uma prova de fogo para o vocalista esta participação.

A esses artistas juntaram-se uma série de nomes tais como: José Salgueiro e Alexandre Frazão na bateria e percussões, Rui Luís Pereira (Dudas) e Fredo Mergner nas guitarras e também Fernando Júdice e Yuri Daniel no baixo.
Estava dado assim o pontapé de saída para um fenómeno da musica nacional num tempo em que a Internet era algo do futuro, e em que a música ainda não era o buraco vazio de talento em que o tornaram hoje em dia.


.Aqui ao luar ao pé de ti ao pé do mar...

Sendo um aglomerado de talentos provenientes de vários grupos da musica rock/pop como os Delfins, Xutos e Pontapés ou Santos e Pecadores o grupo decidiu fazer covers de músicas desses mesmos grupos mas não só, reviveram por exemplo uma música dos Sitiados "A noite" que é provavelmente a primeira música que nos vem a cabeça quando falamos dos Resistência e que muitos pensam mesmo ser um original do grupo mas a verdade é que essa música foi um original dos Sitiados que a usaram para concorrer no 5º Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous em 1988 e em que obteriam o segundo lugar.

Penso que teria sido interessante João Aguardela por exemplo ter-se juntado aos Resistência pois acabou por ser uma das vozes e figuras que mais marcaram esta geração da musica Portuguesa e que menos reconhecimento acabou por ter mas essa e outra conversa.
Outra das musicas com maior sucesso dos Resistência foi o original dos Radio Macau "Amanha é sempre longe demais", ou ainda "Fado" dos Heróis do Mar.



Em relação a álbuns o contracto com a editora previa a gravação de quatro álbuns mas acabaram por ser gravados e lançados apenas três sendo eles :

- Palavras ao Vento (BMG) 1991
- Mano a Mano (EMI) 1992
- Ao Vivo no Armazém 22 (BMG) 1993

O álbum "Palavras ao vento" lançado em finais de 1991 foi um sucesso imediato não devido a popularidade dos artistas em si mas também pela qualidade da musica e dos interpretes, um sucesso nos tops, na radio e ao vivo.
No ano seguinte a banda rumou à estrada, conseguindo o feito de trinta concertos no total, durante o Verão.

Foi uma prova dura para a banda, mas superada
Após a dupla-platina conquistada, a Resistência apresentou mais um disco em 1992. "Mano a Mano". O sucessor de "Palavras ao Vento", tomou forma com os mesmos músicos do primeiro trabalho, mas verificou-se alguma inovação.
Desde a aproximação a novos ritmos, próximos daquilo que praticavam os Sitiados, mas também aos clássicos da música portuguesa, como os temas "Traz Outro Amigo Também" e "Que Amor Não me Engana", de José Afonso.



O disco "Mano a Mano" incluí ainda temas como "Timor", "Esta Cidade", "Perigo", "Fim", "Prisão em Si", e ainda com os bem sucedidos "Um Lugar ao Sol" , "A Noite" e "Aquele Inverno"
O ultimo álbum lançado pela banda em 1993 foi gravado ao vivo e trata-se de um CD duplo que foi basicamente o culminar de dois anos fantásticos para a banda e para a música nacional.
O grupo participou também no primeiro "Portugal ao Vivo", gravado em Alvalade.
No ano seguinte foram convidados a participar numa homenagem a José Afonso a que se chamou "Filhos da Madrugada", um CD duplo.

O tema "Chamaram-me Cigano" foi o escolhido para a homenagem e é a terceira faixa do segundo disco. No fim de Junho seguinte, aliás, como muitas outras bandas portuguesas que integraram o projecto simbólico, a Resistência participou também no concerto de apresentação, que teve lugar no então Estádio José de Alvalade.A última acção do grupo foi uma a participação num disco de tributo a António Variações denominado "Variações - As Canções de António", com a música "Voz-Amália-de-Nós".



Resumindo é por grupos como este que continuo a achar que a música Portuguesa ainda tem salvação, no dia em que os novos cantores se apercebam que temos um dos melhores idiomas do mundo para se cantar e comecem de uma vez por todas a cantar aquilo que realmente gostam e não o que os outros querem porque é moda.
Os chamados "artistas" de micro-ondas que hoje em dia poluem a nossa rádio e TV deviam ter vergonha das letras que cospem descabidas de valores e sem qualquer sentido que os outros lhes enfiam na boca, mais na música que o sucesso instantâneo e o dinheiro fácil ou a popularidade nas revistas cor-de-rosa.

A música deve ser dos verdadeiros artistas pois é uma arte que requer trabalho e dedicação, a música não é chegar a um palco e mandar uns check-it outs para as babes da plateia.
Felizmente sou do tempo em que se ouvia boa música e tenho termo de comparação com o que se faz hoje em dia onde obviamente salvo raras excepções. assistimos a degradação do meio musical.
Talvez um dia os Resistência voltem numa noite de nevoeiro para salvar a nossa música.