domingo, 30 de janeiro de 2011

Idolo ou Cromo nrº14 : Resistência


Depois de passar o mês de Janeiro quase por inteiro a tentar perder os excessos de açúcar acumulados na época Natalícia, diga-se sem grande sucesso, achei que não havia nada melhor que me sentar a frente do PC e tentar perder esses mesmos açúcares através do bater dos meus dedos no teclado.

Sendo assim decidi escrever sobre aquela que foi uma das bandas que mais me marcou no panorama musical Português, os Resistência foram mais que uma banda foram sim um super-grupo uma espécie de concelho de super heróis como aqueles da Marvel mas que em vez de dispararem raios pelos olhos ou teias pelas mãos usavam o seu talento para cantar, tocar e encantar a juventude deste pais que no inicio dos anos 90 tinha apenas dois canais de TV e apenas uma variedade de sabor de batatas fritas empacotadas, nada de sabor a ketchup ou chouriço apenas havia lisas ou onduladas...ai ai os anos 90.

Peço desculpa se divaguei um pouco, uma curiosidade sobre esta banda é que começou por ser num primeiro esboço uma espécie de girls-band!
Na cidade de Lisboa, na edição da Feira do Livro de 1989, deu-se o primeiro passo para a criação do projecto, Teresa Salgueiro, Anabela Rodrigues e Filipa Pais, ao lado de Pedro Ayres Magalhães, o mentor do projecto, estiveram presentes numa sessão experimental primordial.
No entanto na sessão seguinte as vozes femininas deram lugar as masculinas nas pessoas de :
Pedro Ayres Magalhães, Miguel Ângelo, Tim, Fernando Cunha e Olavo Bilac, uma curiosidade prende-se com o facto que Olvao Bilac apesar de fazer parte dos Santos e Pecadores a banda ainda não tinha gravado nenhum álbum o que acabou por ser uma prova de fogo para o vocalista esta participação.

A esses artistas juntaram-se uma série de nomes tais como: José Salgueiro e Alexandre Frazão na bateria e percussões, Rui Luís Pereira (Dudas) e Fredo Mergner nas guitarras e também Fernando Júdice e Yuri Daniel no baixo.
Estava dado assim o pontapé de saída para um fenómeno da musica nacional num tempo em que a Internet era algo do futuro, e em que a música ainda não era o buraco vazio de talento em que o tornaram hoje em dia.


.Aqui ao luar ao pé de ti ao pé do mar...

Sendo um aglomerado de talentos provenientes de vários grupos da musica rock/pop como os Delfins, Xutos e Pontapés ou Santos e Pecadores o grupo decidiu fazer covers de músicas desses mesmos grupos mas não só, reviveram por exemplo uma música dos Sitiados "A noite" que é provavelmente a primeira música que nos vem a cabeça quando falamos dos Resistência e que muitos pensam mesmo ser um original do grupo mas a verdade é que essa música foi um original dos Sitiados que a usaram para concorrer no 5º Concurso de Música Moderna do Rock Rendez Vous em 1988 e em que obteriam o segundo lugar.

Penso que teria sido interessante João Aguardela por exemplo ter-se juntado aos Resistência pois acabou por ser uma das vozes e figuras que mais marcaram esta geração da musica Portuguesa e que menos reconhecimento acabou por ter mas essa e outra conversa.
Outra das musicas com maior sucesso dos Resistência foi o original dos Radio Macau "Amanha é sempre longe demais", ou ainda "Fado" dos Heróis do Mar.



Em relação a álbuns o contracto com a editora previa a gravação de quatro álbuns mas acabaram por ser gravados e lançados apenas três sendo eles :

- Palavras ao Vento (BMG) 1991
- Mano a Mano (EMI) 1992
- Ao Vivo no Armazém 22 (BMG) 1993

O álbum "Palavras ao vento" lançado em finais de 1991 foi um sucesso imediato não devido a popularidade dos artistas em si mas também pela qualidade da musica e dos interpretes, um sucesso nos tops, na radio e ao vivo.
No ano seguinte a banda rumou à estrada, conseguindo o feito de trinta concertos no total, durante o Verão.

Foi uma prova dura para a banda, mas superada
Após a dupla-platina conquistada, a Resistência apresentou mais um disco em 1992. "Mano a Mano". O sucessor de "Palavras ao Vento", tomou forma com os mesmos músicos do primeiro trabalho, mas verificou-se alguma inovação.
Desde a aproximação a novos ritmos, próximos daquilo que praticavam os Sitiados, mas também aos clássicos da música portuguesa, como os temas "Traz Outro Amigo Também" e "Que Amor Não me Engana", de José Afonso.



O disco "Mano a Mano" incluí ainda temas como "Timor", "Esta Cidade", "Perigo", "Fim", "Prisão em Si", e ainda com os bem sucedidos "Um Lugar ao Sol" , "A Noite" e "Aquele Inverno"
O ultimo álbum lançado pela banda em 1993 foi gravado ao vivo e trata-se de um CD duplo que foi basicamente o culminar de dois anos fantásticos para a banda e para a música nacional.
O grupo participou também no primeiro "Portugal ao Vivo", gravado em Alvalade.
No ano seguinte foram convidados a participar numa homenagem a José Afonso a que se chamou "Filhos da Madrugada", um CD duplo.

O tema "Chamaram-me Cigano" foi o escolhido para a homenagem e é a terceira faixa do segundo disco. No fim de Junho seguinte, aliás, como muitas outras bandas portuguesas que integraram o projecto simbólico, a Resistência participou também no concerto de apresentação, que teve lugar no então Estádio José de Alvalade.A última acção do grupo foi uma a participação num disco de tributo a António Variações denominado "Variações - As Canções de António", com a música "Voz-Amália-de-Nós".



Resumindo é por grupos como este que continuo a achar que a música Portuguesa ainda tem salvação, no dia em que os novos cantores se apercebam que temos um dos melhores idiomas do mundo para se cantar e comecem de uma vez por todas a cantar aquilo que realmente gostam e não o que os outros querem porque é moda.
Os chamados "artistas" de micro-ondas que hoje em dia poluem a nossa rádio e TV deviam ter vergonha das letras que cospem descabidas de valores e sem qualquer sentido que os outros lhes enfiam na boca, mais na música que o sucesso instantâneo e o dinheiro fácil ou a popularidade nas revistas cor-de-rosa.

A música deve ser dos verdadeiros artistas pois é uma arte que requer trabalho e dedicação, a música não é chegar a um palco e mandar uns check-it outs para as babes da plateia.
Felizmente sou do tempo em que se ouvia boa música e tenho termo de comparação com o que se faz hoje em dia onde obviamente salvo raras excepções. assistimos a degradação do meio musical.
Talvez um dia os Resistência voltem numa noite de nevoeiro para salvar a nossa música.